Documentário registra o cotidiano de pobreza e insalubridade dos produtores familiares de fumo na região sul do Brasil
Produzido com apoio do MPT, “Vidas Tragadas” faz uma radiografia das dificuldades enfrentadas pelos pequenos agricultores responsáveis pela produção fumageira
O documentário Vidas Tragadas, uma radiografia sobre os desafios e os problemas dos agricultores familiares produtores de fumo na Região Sul, foi lançado oficialmente no fim de outubro. Com direção de Marques Casara, o documentário é resultado de um trabalho de apuração abrangente ao longo dos três estados do Sul do Brasil, que concentram 95% da produção fumageira do país.
O filme é resultado de um ano de investigação jornalística sobre as condições de trabalho dos agricultores familiares. Percorrendo 5 mil quilômetros, a equipe de filmagem encontrou uma situação dramática do ponto de vista dos direitos humanos: uma cadeia produtiva na qual um grande número de agricultores está preso por dívidas e compromissos abusivos a ciclos desgastantes de trabalho nos quais a saúde é negligenciada e a própria sistemática de produção é danosa para o trabalhador.
“O objetivo deste filme é mostrar para a sociedade que existe uma fachada de prosperidade em torno da produção do fumo que não condiz em absoluto com a realidade da maioria das famílias envolvidas nessa produção, muitas delas endividadas, presas a um ciclo de pobreza e trabalho que se reflete na piora das condições de saúde dessas pessoas”, diz o diretor de Vidas Tragadas, Marques Casara.
A pesquisa foi conduzida por jornalistas da Papel Social, organização especializada na identificação de violações de direitos humanos em cadeias produtivas. O Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), a Associação Paranaense de Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos (Apreas) e a ACT Promoção da Saúde, assim como a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente – COORDINFÂNCIA/MPT, foram apoiadores do projeto. Os resultados apresentados no documentário, contudo, apresentam desafios que não se restringem a um único estado.
“O documentário trata de um tema muito importante para o MPT no RS, já que a indústria do tabaco tem muita presença em algumas localidades, sendo a força motora da economia de muitos municípios gaúchos. Assim, sem dúvida as diversas problemáticas em torno desta cultura tão particular podem ensejar a atuação do MPT, especialmente para proteger a saúde do trabalhador, bem como para promover a erradicação do trabalho infantil, culturalmente introjetado neste modo de produção. Assim, os fatos trazidos à tona no documentário, embora não sejam novos ao MPT, sem dúvida referendam as ações que já vem sendo implementadas.”, comenta a procuradora do MPT-RS e coordenadora regional da COORDINFÂNCIA, Patrícia de Mello Sanfelici Fleischmann.
Livro
A pesquisa realizada pela equipe também gerou um livro com o mesmo nome. Dividida em seis capítulos, a obra traça um panorama sobre as condições de trabalho no setor, com relatos sobre a exploração e a dependência econômica das famílias aos contratos de integração com as empresas, o trabalho infantil, os impactos ambientais e na saúde dos fumicultores e as estratégias das multinacionais para controlar as decisões de gestores municipais e influenciar organizações do terceiro setor.
O cenário encontrado foi o de agricultores familiares em jornadas extenuantes, expostos a agrotóxicos e contaminados por overdoses de nicotina. Médicos e cientistas associam o cultivo do fumo aos alarmantes índices de depressão e suicídios registrados em todos os polos produtivos.
O trabalho infantil também está presente. Adolescentes trabalham tanto para a própria família quanto para empreiteiros de mão de obra, em áreas de cultivo integradas às empresas.
"A cultura do tabaco é, em si, insalubre, em razão da nocividade da própria folha. Assim, é muito importante que as diversas normas de proteção à saúde do trabalhador sejam respeitadas rigorosamente. Todavia, o principal vetor do documentário é o trabalho infantil na cultura do tabaco, trabalho este totalmente proibido antes dos 18 anos de idade, já que se trata de uma das piores formas de trabalho infantil, conforme previsto na lista TIP. Embora haja uma tolerância social muito grande à presença de crianças e adolescentes no campo - sendo, mais do que isso, uma verdadeira cultura ainda remanescente - é fundamental que seja feito um trabalho de conscientização a respeito dos diversos riscos e gravames à saúde que o trabalho na lavoura, especialmente no trato do tabaco, podem trazer, os quais se intensifica quanto mais cedo o trabalho começa", analisa a procuradora Patrícia de Mello Sanfelici Fleischmann
O filme, com duração de 27 minutos, está disponível na íntegra na plataforma audiovisual Vimeo, e pode ser visto no endereço https://vimeo.com/370684615.
Texto: Carlos André Moreira (reg. prof. MT/RS 8553)
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