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Trabalhadores da BRF de Lajeado denunciam excessivo ritmo de trabalho e descumprimento de pausas

    Os trabalhadores da BRF S.A. de Lajeado sofrem excessivo ritmo de trabalho e omissão da empresa em cumprir as pausas da Norma Regulamentadora (NR) 36. A conclusão é resultado da análise do questionário de avaliação das condições de trabalho em frigoríficos, aplicado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e respondido/denunciado por funcionários da indústria. De quarta a sexta-feira (23 a 25/4), força-tarefa conjunta com o Ministério do Trabalho e Emprego investigou a unidade e o MTE determinou a imediata paralisação de máquinas e atividades da empresa, em razão da constatação da situação de risco grave e iminente à saúde e/ou à integridade física dos trabalhadores. O objetivo do questionário foi o de identificar as condições de saúde e eventuais inadequações das condições de trabalho.

     Foram entrevistados 45 empregados do setor de embalagem do frango griller. A amostra abrange cerca de 50% dos que laboram no setor, no primeiro turno de trabalho. Os dados comprovam a necessidade imediata de adequação do ritmo de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores no setor pesquisado, com o devido dimensionamento do número de empregados às exigências de produção (acréscimo de um empregado em cada posto do funil), desvio de parte da produção para a sala de cortes, reduzindo o número de frangos/hora/cuba e o atual ritmo de trabalho para os limites informados pelo laudo ergonômico da empresa (manuseio de até 15 peças por minuto). A adequação das condições de trabalho requer a observância do limite de 40 ações técnicas por minuto/trabalhador.

     A força-tarefa foi formada pelos procuradores do Trabalho Heiler Ivens de Souza Natali, Sandro Eduardo Sardá e Ricardo Garcia, respectivamente coordenador nacional, gerente nacional e coordenador estadual do Projeto de Adequação das Condições de Trabalho nos Frigoríficos, Enéria Thomazini e Márcio Dutra da Costa. Pelo MTE, participaram os auditores-fiscais do Trabalho Mauro Marques Müller (coordenador estadual do Projeto Frigoríficos do MTE), Marlon Martins e Ricardo Luis Brand. A ação também foi acompanhada pelos coordenador e fisioterapeuta da Sala de Apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (CNTA), respectivamente Darci Pires da Rocha e Carine Taís Guagnini Benedet, e pelos presidente e conselheiro fiscal do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Avícolas e Alimentação em Geral de Lajeado (Stial), respectivamente Adão José Gossmann e Everaldo Félix Santoni.

Números

     Os procuradores Heiler Natali e Sandro Sardá - responsáveis pela aplicação do questionário - informam que 44,5% dos entrevistados responderam que o ritmo de trabalho na empresa é muito rápido. Para 53,3%, é rápido. Apenas 2,2% consideraram o ritmo médio. Em relação as queixas de dor, 90,% dos empregados relataram sentir com habitualidade. As regiões corporais com maior comprometimento foram o ombro, seguido de braços, mão/punho e coluna. Sobre medicamentos para dor, 79% dos empregados relataram o uso de forma regular. A totalidade dos medicamentos informados é constituída por analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares.

     Em relação a permanência do estado doloroso, 71,4% dos entrevistados que responderam a pergunta relataram que as dores percebidas aliviam apenas após um final de semana completo de repouso, ao passo que para 22,9% disseram que aliviam com o descanso noturno. Ainda em relação a permanência do estado doloroso, 5,7% dos entrevistados garantiram ter convívio contínuo com as dores no corpo, que não cessam nem mesmo nos finais de semana. Ao serem indagados acerca da percepção do início do processo de dor, 39,3% dos entrevistados reportaram que o mesmo ocorrera já a partir dos 3 meses iniciais de trabalho.

     Sobre a intensidade do estado doloroso, 59,5% dos entrevistados que responderam a esse questionamento reportaram ser de elevada intensidade, ao passo que 28,6% avaliaram como moderadas as dores percebidas. Apenas 11,9% dos entrevistados atribuíram como leve intensidade as dores sentidas em razão do trabalho. Ao responder o questionamento em torno de como o trabalhador se sente ao final da jornada, 35,6% dos entrevistados informaram se sentir exaustos, sendo esse o mesmo percentual daqueles que disseram se sentir muito cansados. Já 26,6% daqueles que responderam ao questionamento informaram se sentir cansados. Apenas 2,2% das pessoas ouvidas disseram se sentir pouco cansadas após o término da jornada.

     Por fim, no tocante à concessão adequada das pausas para recuperação psicofisiológica preconizada pela NR 36 (atualmente estabelecida em 50 minutos para jornada superior a 7h40min), 97,8% dos empregados entrevistados informaram que a empresa não concede regularmente todas as pausas, sendo frequente a subtração de pausas ao longo da jornada.


Texto e gráficos: Flávio Wornicov Portela (reg. prof. MTE/RS 6132) enviado especial
Publicação no site: 29/4/2014

Tags: Abril

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