MPT defende na Câmara medidas de atenção à saúde mental em desastres
Instituição participou de audiência pública que discutiu a saúde mental de profissionais e voluntários que atuam em ações de resgate, acolhimento e reconstrução no Rio Grande do Sul
A adoção de medidas de atenção à saúde mental em todas as fases de um desastre foi destacada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em audiência pública realizada nesta terça-feira (28), na Câmara dos Deputados. O debate, solicitado pela deputada federal Geovania de Sá (SC), foi realizado nas comissões de Saúde e de Trabalho da Casa e discutiu a saúde mental de profissionais e voluntários que atuam em ações de resgate, acolhimento e reconstrução no Rio Grande do Sul.
A instituição foi representada pela vice-presidente do Grupo de Trabalho Regional do MPT-RS: Desastre Climático, Mônica Fenalti Delgado Pasetto, que destacou que o adoecimento mental tem impacto direto no mercado de trabalho. De acordo com a procuradora do Trabalho, estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente no mundo devido à ansiedade e à depressão e que isso tem um custo de quase US$ 1 trilhão na economia global.
A representante também ressaltou que crises como a das enchentes no Rio Grande do Sul são fatores externos que desencadeiam o adoecimento mental. Para reduzir esses impactos, a procuradora defendeu a promoção de políticas públicas com eixos de atuação bem integrados que contenham atenção à saúde mental nas três fases que compõem um desastre (preparação, resposta e recuperação).
"Incluir a saúde mental dos trabalhadores nessas fases é primordial. Não é só tratar de saúde mental, mas sim da saúde mental dos que cuidam. E nisso, o MPT tem um papel que consideramos muito relevante: o de agente de interlocução." , destacou a procuradora do MPT-RS.
Ao falar sobre a atuação do MPT durante as enchentes no Estado, a representante explicou que o grupo de trabalho criado pela instituição tem como foco promover a informação adequada em um contexto de instabilidade. Mônica Pasetto relatou que, até o momento, o GT divulgou três recomendações, sendo a mais recente voltada justamente para a fase de recuperação. “Nessa recomendação, foi estabelecida expressamente a necessidade de o empregador prestar apoio psicológico e de monitorar os efeitos dos eventos climáticos na saúde física e psíquica de seus trabalhadores”, destacou a vice-presidente do GT.
Ela encerrou comentando ainda que o futuro é de desafios devido à incerteza produzida pelos efeitos devastadores da crise:
"O mundo do trabalho já enfrenta a questão da saúde mental em vários aspectos: estresse, metas abusivas, abusos sexuais nas relações de trabalho. Mas agora estamos em um ambiente novo, que é a questão dos desastres, que vai implicar em perda de postos de trabalho, fechamento de empresas, ruptura de contratos por falta de insumos, por impossibilidade de transporte, então temos um cenário que para o trabalhador é assustador nos próximos tempos. Teremos que cuidar da saúde desses trabalhadores. Temos um caminho grande pela frente, mas cabe ressaltar a necessidade de razoabilidade, de bom senso, nesse momento de retomada das atividades", concluiu a procuradora.
Também fizeram apresentações na audiência pública o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva; a representante do Ministério da Saúde Débora Noal; a coordenadora-geral de Fiscalização em Segurança e Saúde no Trabalho, Viviane de Jesus Forte; a jornalista e escritora Izabella Camargo e a presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, Miriam Cristiane Alves.