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Procurador-chefe debate direitos das pessoas com autismo

Painel no hotel Intercity discutiu medidas governamentais para inserção no mercado do trabalho

Oficina reúne 25 interessados na causa do autismo
Oficina reúne 25 interessados na causa do autismo

     O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS), Fabiano Holz Beserra. participou, no final da manhã desta sexta-feira (31/10), da 3ª Oficina de Capacitação e Fortalecimento das Organizações de Defesa dos Direitos das Pessoas com Autismo. O evento começou às 8h de ontem e termina às 18h de hoje, está sendo realizado no hotel Intercity e reúne 25 interessados na causa, representando inclusive alguns municípios do Interior. A organização é da Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça).

     O procurador abordou medidas governamentais para inserção no mercado do trabalho, em especial cotas para pessoas com deficiência. Explicou que, há cinco anos, iniciou uma experiência específica sobre o autismo, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac) e com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Fabiano relatou três casos bem sucedidos de autistas inseridos no mercado de trabalho. O procurador completou que "o importante é desmistificar o autismo e ampliar a divulgação das experiências positivas".

     A coordenadora do Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência (PCDs) da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul (SRTE-RS), auditora-fiscal do Trabalho Ana Maria Machado da Costa, participou do mesmo painel e também relatou suas experiências de casos de pessoas com autismo. Informou que as grandes empresas podem pagar multa de até R$ 170 mil quando não preenchem cotas de pessoas com deficiência. Ana colocou-se à disposição para encaminhar pessoas com autismo para cursos de aprendizagem profissional e para emprego.

     A proposta da Abraça é conviver com as pessoas autistas de forma cordial, buscando entendê-las e aceitando seu jeito tão peculiar para, assim, ajudá-las a se desenvolver e ser felizes, autônomas e independentes. Em dezembro de 2007, a entidade norte-americana Autism Speaks, com o apoio do embaixador do Qatar, conseguiu que a ONU determinasse 2 de abril como o Dia Mundial de Consciência do Autismo. A partir de 2011, a cor azul foi adotada pelo movimento, porque meninos têm quatro vezes mais probabilidade de ter diagnóstico de autismo do que meninas. Assim como, em geral, azul é a cor dos meninos, a cor-de-rosa é das meninas. O movimento do câncer do seio, por exemplo, usa cor-de-rosa. 

Procurador Fabiano Beserra e auditora Ana Costa
Procurador Fabiano Beserra e auditora Ana Costa

Verdades e mitos

     O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização (estabelecer relacionamentos) e de comportamento (responder apropriadamente ao ambiente - segundo as normas que regulam essas respostas). Esta desordem faz parte de um grupo de síndromes conhecidas como transtorno global do desenvolvimento (TGD), embora também seja cunhado o termo transtorno do espectro autista (TEA).

     Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem fechados e distantes, outros presos a rígidos e restritos padrões de comportamento. Os diversos modos de manifestação do autismo também são designados de espectro autista, indicando gama de possibilidades dos sintomas do autismo. Atualmente, já há possibilidade de detectar a síndrome antes dos dois anos de idade em muitos casos. O diaganóstico precoce é fundamental para integração na sociedade.

     Certos adultos com autismo são capazes de ter sucesso na carreira profissional. Porém, os problemas de comunicação e socialização causam, frequentemente, dificuldades em muitas áreas da vida. Adultos com autismo continuarão a precisar de encorajamento e apoio moral na sua luta para uma vida independente. Pais de autistas devem procurar programas para jovens adultos autistas bem antes dos seus filhos terminarem a escola.

     O autismo afeta, em média, uma em cada 88 crianças nascidas nos Estados Unidos, segundo o CDC (sigla em inglês para Centro de Controle e Prevenção de Doenças), do governo daquele país, com números de 2008, divulgados em março de 2012. No Brasil, porém, ainda não há estatísticas a respeito do TEA. Em 2010, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, 2 de abril, a ONU declarou que, segundo especialistas, acredita-se que a doença atinja cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem.

     O aumento dos números de prevalência de autismo levanta discussão importante sobre haver ou não epidemia da síndrome no planeta, ainda em discussão pela comunidade científica. No Brasil, foi realizado o primeiro estudo de epidemiologia de autismo da América Latina, publicado em fevereiro de 2011 - com dados de 2010, liderado pelo psiquiatra da infância Marcos Tomanik Mercadante (1960-2011). O projeto-piloto, com amostragem na cidade paulista de Atibaia, aferiu a prevalência de um caso de autismo para cada 368 crianças de 7 a 12 anos. Outros estudos estão em andamento no Brasil.

     Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que pessoas autistas vivem em seu mundo próprio, interagindo com o ambiente que criam; isto não é verdade. Se, por exemplo, uma criança autista fica isolada em seu canto observando outras crianças brincarem, não é porque ela necessariamente está desinteressada nessas brincadeiras ou porque vive em seu mundo. Pode ser que essa criança simplesmente tenha dificuldade de iniciar, manter e terminar adequadamente uma conversa. Muitos cientistas atribuem esta dificuldade à Cegueira Mental, compreensão decorrente dos estudos sobre a Teoria da Mente.

     Outro mito comum é de que quando se fala em uma pessoa autista, geralmente se pensa em uma pessoa retardada ou que sabe poucas palavras (ou até mesmo que não sabe alguma). Problemas na inteligência geral ou no desenvolvimento de linguagem, em alguns casos, podem realmente estar presente, mas nem todos são assim. Às vezes, é difícil definir se uma pessoa tem um déficit intelectivo ou se ela nunca teve oportunidades de interagir com outras pessoas ou com o ambiente. Na verdade, alguns indivíduos com autismo possuem inteligência acima da média. 

Leia mais:

29/4/2014 - Apresentação destaca especificidades da inserção do profissional com autismo no mercado

Clique aqui para assistir "Autismo e mercado de trabalho: Encaixando peças".

Clique aqui para acompanhar informações sobre a causa no Facebook.

Pesquisa, texto e fotos: Flávio Wornicov Portela (reg. prof. MTE/RS 6132)

Tags: Outubro

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